A Caldeirada (várias notícias), 1924: (Arranjar)
A Caldeirada
Nº | Jornal | Título da notícia | DATA |
1 | O Democrata | Carnaval | 22 de Dezembro de 1923 |
2 | O Democrata | A Caldeirada | 12 de Janeiro de 1924 |
3 | O Democrata | A Caldeirada | 15 de Março de 1924 |
4 | O Democrata | A Caldeirada | 3 de Maio de 1924 |
5 | O Democrata | A Caldeirada | 31 de Maio de 1924 |
6 | O Democrata | Aveiro em cena: A Caldeirada | 7 de Junho de 1924 |
7 | O Povo de Aveiro | A Caldeirada | 29 de Junho de 1924 |
8 | O Democrata | A Caldeirada | 12 de Julho de 1924 |
9 | O de Aveiro | Viseu-Aveiro | 12 de Fevereiro de 1925 |
10 | O Ilhavense | Aveiro Excursionista | 12 de Julho de 1925 |
11 | O de Aveiro | A Caldeirada | 19 de Fevereiro de 1929 |
12 | O Democrata | A Caldeirada | 5 de Junho de 1937 |
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1) in O Democrata de 22 de Dezembro de 1923:
CARNAVAL
“Consta-nos que o Club dos Galitos nos prepara algumas surpresas para o próximo carnaval entre elas a representação duma revista local, que possivelmente se intitulará A Caldeirada.
Pois então venha de lá essa coisa, bem temperadinha, para variar…”
2) in O Democrata de 12 de Janeiro de 1924:
A Caldeirada
“Vão principiar os ensaios desta revista local, que será representada por ocasião do entrudo, devendo satisfazer plenamente o público em consequência da graça, dos ditos de espírito que surgem no decorrer de todas as cenas. Bem podem, por isso, mandar alargar um pouco o cós os que tencionam assistir à première de A Caldeirada se não quiserem ter o desgosto de ir para casa, altas horas, com ele rebentado…”
3) in O Democrata de 15 de Março de 1924:
A Caldeirada
“Estão decorrendo com o maior entusiasmo os ensaios desta revista de costumes regionais, que deve obter um verdadeiro sucesso, e na qual entram para cima de 60 figuras de ambos os sexos.
Além dos ditos engraçadíssimos, A Caldeirada deve sobressair ainda pela música cujos números se destacam em todos os actos pela sua originalidade, sendo, por isso, grande o interesse que já se nota para a obtenção de lugares no teatro mesmo sem ser ainda conhecido o dia da première.”
4) in O Democrata de 3 de Maio de 1924:
A CALDEIRADA
“Caso não surja qualquer imprevisto, a premiére desta revista Aveirense, ornada de bôa musica e cheia de ditos engraçados, mas inofensivos, com alusões várias, deve ter lugar no próximo dia 14, estando-lhe reservado o maior sucesso como récitas de amadores.
Os Galitos, florescente clube onde tantos elementos existem de valor, vai colher mais uma coroa de louros para juntar às muitas que já conta no seu precioso arquivo e devem um dia, reunidos, formar o pedestal em que nós todos o devemos colocar, enaltecendo-o.
Os ensaios, que estão muito adiantados, mostram que A Caldeirada, com cenário novo e apropriado, não deverá ter só uma, nem duas representações, mas uma série delas para que seja devidamente apreciada e o êxito completo. Toda a gente, decerto, quererá ver e aplaudir os intérpretes, as figuras principais da nova revista onde Luiz Couceiro e o Dr. Vasco Rocha se evidenciam como autores, apresentando um trabalho sob todos os pontos de vista notável. Por isso ela subirá à cena pelo menos tantas vezes quantas forem necessárias para lhe assegurar um verdadeiro sucesso, mil vezes superior aos que os nossos amadores teatrais já têm obtido por diferentes vezes, e que nós desde já profetizamos.”
5) in O Democrata de 31 de Maio de 1924:
A Caldeirada
“Anunciada para hoje, teve, porém, de ser transferida para quinta-feira, a première desta revista-fantasia regional em 3 actos e dez quadros, ornada com 25 números de musica original do Dr. Vasco Rocha e cujo desempenho se acha a cargo do Grupo Cenico do Club dos Galitos, composto de 80 figuras de ambos os sexos.
O cenário, todo novo e de belo efeito, foi expressamente pintado por José Santana, que nesse trabalho revelou mais uma vez as suas aptidões artísticas e o guarda-roupa pertence a Jaime Valverde, do Porto.
A casa está toda passada.”
6) in O Democrata de 7 de Junho de 1924:
AVEIRO EM CENA: A CALDEIRADA
Com o maior êxito realiza-se a “premiére” desta revista-fantasia regional.
“Se recordar é viver, nós vivemos intensamente, vivemos com toda a vida na noite de ante-ontém em que o nosso espírito acordou outras não menos belas, quando o saudoso grupo – Tricanas e Galitos – conseguia um triunfo por cada representação!
Tivemos agora uma clara reminiscência, parecendo-nos ouvir as palmas estrepitosas, os aplausos unos, quentes, vibrantes de outrora e sentimos também a corrente de entusiasmo que, naquela atmosfera perfurmada do teatro, embriaga as almas eleitas num delírio de prazer, apagando as durezas da vida, amaciando, até, insensibilidades de muitos espíritos alheios à harmonia e aos encantos que o Homem criou, espalhando-os na Arte e cimentando-os na Poesia, na Pintura, no Teatro, na Música!
Perpassaram na quinta-feira, ante os nossos olhos, as figuras brilhantes de outrora, os cenários, as caracterizações, o guarda-roupa e tivemos a inebriante ilusão das harmoniosas composições, características e típicas, da Marcha da Cadiz, Madre del Cordero, El Buteo, Terno de Clarins, Trebol, caraça. Etc., que espiravam vida, arte, beleza, perfume, graça. Tudo de novo nos acorreu à mente, como écran onde se reproduzisse a passagem galopantemente vertiginosa das cenas palpitantes de então.
A Caldeirada aviva-nos por assim dizer todas as reminiscencias do passado, convencendo-nos que de novo voltamos a essa época plena de glória, de entusiasmo e de prazer.
Emocionados, fomos contando os minutos e quando a magnífica orquestra, sob a regencia do Dr. Vasco Rocha, desferiu os primeiros acordes de côro de abertura, não podemos evitar um frémito, vagado dum sentimento que não sabemos traduzir, mas que, percebemos ter-se erguido da alma, como se uma rajada de fantasia a conduzisse aos páramos da felicidade – embora curta – para ouvir cantar e sorrir essa angélica e divinal flôr que se chama – o sonho!
Ligados intimanente, por amizade e por simpatia, á sorte da peça, da qual partilhavam dezenas de creaturas levadas ao palco somente por uma grande dedicação ao Club dos Galitos, no momento supremo, que sempre envolve o subir do pano para uma première, não é de estranhar que a comoção nos invadisse também, apressandonos as pulsações e derramando no nosso intimo, como que uma ânsia, uma duvida, que mais propriamente se pode chamar uma dolorosa apreensão, uma inquietude espectativa.
Contudo, a esperança de que o público, transigente e cordato, deveria ver no desempenho da nova revista apenas a decidida bôa vontade dum grupo em, após muito trabalho e muita canceira, elevar a cidade de Aveiro, não nos tendo abandonado, acabou por nos encher de satisfação, de tal maneira os amadores de A Caldeirada se ornaram dignos dos aplausos da plateia, arrancando-lhos a um tempo calorosos, prolongandos, delirantes como raro acontece quando se abrem as portas do teatro.
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O original da peça é, como a de todas as suas congéneres – sem lógica e sem manifesta preocupação literária.
Todavia, o seu autor, o sr Luís Couceiro da Costa, apresentou um trabalho de espírituosa factura e de observação oportuna, leve, gracioso e a que não falta a preciosa técnica de cena e o necessário interesse de diálogo.
Dizemos acima, que, como todas as revistas, não há por parte do autor de A Caldeirada a preocupação literária. Forma de dizer, confessamos, pois A Caldeirada tem uma notável parte exuberante de talento e de espírito, na qual o sr. Couceiro evidencia, duma maneira superior, a elevação da ideia e a sua não menos elevada exposição. Essa parte é a poética, aliás abundante, da qual, como mimo de composição, não podemos deixar de salientar a letra das Canções das tricanas e da Serrana e respectivo côro; os coros das Salineiras e dos Bilros; a Torreira; os Valentes do Mar, a Barcarola e as Misérias da Rua. Todos esses versos – justo é referi-lo - revelam um cunho muito especial de originalidade e de sentimento, que aqui nos cabe consignar como um acto de merecida justiça.
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A composição de toda a música da revista é original do Dr. Vasco Rocha, que tem, de há muito, o seu nome consagrado em produções de todo o género, frutos da sua fantasia de verdadeiro artista.
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Musica sonòra
Em que parece rir a alegria das aves
Encantadas da aurora!
E, de facto, a beleza de toda a música da revista, é para esta complemento do seu triunfo, tal a originalidade da sua composição manifestada em todos os seus numeros onde ha fremitos de amor, murmurios saudosos e dolentos, ciciar de beijos espargindo sorrisos ou chorando lembranças, que, como rosas da temporada, se prendem e ligam ao coração, num abraço de ternura que enebria, ou num amplexo tão delicado que da sua sensação resulta o êxtase a perturbar-nos os sentidos!
O Dr. Vasco Rocha conhece, por certo, estas palavras de Verdi: na música ha qualquer coisa mais do que a melodia e a harmonia: ha a música!
Assim, na nossa modestíssima e desvalorizada opinião, Vasco Rocha, entre o indispensável cigarro e a tradicional chávena de café, fez a música, no sentido mais amplo da palavra, satisfazendo a teoria de Verdi, e dando-nos, em mais destaque sob o ponto de vista técnico e orquestral, o dueto da Tricana, o da Costa Nova e Brazileiro, a Barcarola, o Côro dos Camaristas, não esquecendo a dulcíssima e harmoniosa balada da Serrana e respectivo côro, e ainda, que bem merecem especial referencia, o hino de abertura, a saudação à Talabriga, os coros dos Reis Magos, dos Regionalistas, das criadas de servir, Junta da Barra, dueto Costa Nova e S. Jacinto, Canção brazileira, o Fado, etc., etc.
Todos estes números, que indubitavelmente contém um sabor muito delicado, de composição, de gosto e de estilo, onde há suavidade que enlevam e fortes que surpreendem, por si só bastariam para a merecida consagração do seu autor, se ele não estivesse já aureolado pelo reconhecido valor dos seus artísticos merecimentos.
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A Manuel Maria Moreira coube o encargo de ensaiar e só essa tarefa é razão de sobejo para beatificar um homem, e dar-lhe ingressos no calendário, não diremos como mártir… e virgem, mas como autentico mal-aventurado, para quem a sorte fosse adversa!
Já lá diz o provérbio:
Quando o fado é rigoroso
Nada vale ao infeliz…
A este, porém, valeram-lhe, de sobejo, a sua arte e os seus méritos e, nomeadamente, a sua vontade de ferro. Barafustando, ameaçando, trovejando cóleras e distribuindo sorrisos, durante noites consecutivas em meses seguidos, numa luta viva e persistente, que só o seu grande amor ao palco justifica e explica, Manuel Moreira triunfou, por último, vencendo em toda a linha. Para ele, portanto, os louros de mais esta batalha que tão conscientemente dirigiu, consolidando com bizarria os seus conhecimentos e a sua técnica de ensaiador, visto ter marcado com o acerto toda a peça, que, no seu género, tão eriçada de dificuldades, se apresenta.
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Ecoam no espaço, sonorosamente, as badaladas das três horas e a neblina, leve e esfarrapada da manhã, que se aproxima, cai sobre a casaria silenciosa que aguarda o dardejar do sol para reanimar-se.
É a hora a que traçamos, nestes curtos períodos, que o tempo não dá para mais, as impressões que nos enchem a alma enebriada e alegre, trazendo ainda no tímpano o ruído estrepitoso, as chamadas instantes das personagens que conquistaram nos seus papéis, pelo seu trabalho, os merecidos aplausos que de novo aqui salientamos neste momento de suave afinidade espiritual!
Não há um lugar vago no teatro e poucas vezes ali se terá mantido tamanha curiosidade nuns, e tão profunda ansiedade noutros.
O pano sobe e a impressão recebida é profundamente bela. Logo ao findar o primeiro quadro as palmas estrugem e no final do acto, entre aplausos quentes e merecidos, são chamados o autor da música que recebem, em saudações, o seu primeiro baptismo da assistência entusiasmada.
Decorrem os três actos e os seus dez quadros em quatro horas, e, a impressão geral – sem uma nota descordante – é de admiração e de aplauso, de justiça e de louvor.
A Caldeirada foi posta em cena rigorosamente e implica, sem contestação, um completo êxito, de que todos partilham.
Rita da Costa (Aveiro) surpreendemente bela nas suas ricas toilettes, foi uma figura de relevo em toda a peça e surpreendeu a plateia pelo seu magnífico trabalho, correcto e preciso, evidenciando a absoluta compreensão das suas responsabilidades. A seu lado devemos colocar Conceição Picado (Talabriga) que nada deixou a desejar, tirando do seu papel o partido que se lhe ofereceu, mantendo em todo o acto a atitude correspondente ao peso dos seus anos… Foi precisa, e satisfez por completo. Merecem também especial menção Apresentação Lima (Costa Nova) e Adélia Pereira (Torreira) aquela cantando muito bem os seus duetos e esta dizendo com consciência os seus papéis. Maria L. Carvalho tem direito igualmente a justas referencias pela compreensão que evidenciou no desempenho dos seus variados papéis e da música que teve de dizer. Celeste de Freitas cantou magnificamente as canções Tricana e Serrana com a sua esplêndida voz de meio soprano. Ambas as canções foram bisadas e sobre a sua cabeça, merecidamente, cairam muitas flores e bouquets, com que também foram contempladas Rita da Costa e Conceição Picado.
Manuel Paula Graça (o Brazileiro) em todo o seu longo papel foi impecável, imitando, com indiscutível espírito e a personagem que representava. Graça, admirável também na imitação do pobre Vinagreiro, que foi completa.
Há também a registar em letras de ouro, os nomes de Firmino Costa, José Parracho, José de Pinho, José Monteiro, Manuel Moreira, Duarte Simão, José Vieira, Pompeu Figueiredo e Ulisses Pereira, inexcedíveis todos nas magnificas rábulas de que se encarregaram.
Sebastião Amaral cantou artística e deliciosamente o empolgante fado da revista, que a plateia aplaudiu com vivacidade, pedindo bis.
Foram repetidos os córos das Salineiras, a Barcarola, que cantou com brilho Aurélio Costa assim como o dueto da Tricana, que do mesmo modo foi bisado. Os córos certos e perfeitos.
A caracterização impecável, o guarda-roupa esplêndido, satisfazendo as mais insignificantes exigências.
O cenário soberbo e todo ele palpitando e reflectindo Aveiro, nos seus mais belos quadros e paisagens. O cenário da Ria e dos Arcos simplesmente magnifícos, assim como o do último quadro, de apoteose a Viana do Castelo.
Foi, sem dúvida, numa hora feliz que surgiu a ideia e a criação da revista.
A Caldeirada prendeu e prenderá com os seus encantos e entrará em todos os corações, que por mais rígidos, terão de submeter-se ao merecido triunfo que plenamente conquistou o mimoso grupo que acaba de a desempenhar.
No final há chamadas especiais ao autor, ao maestro, ao ensaiador, ao ponto, ao contra-regra, a Pompeu Alvarenga, o incansável amigo do Club dos Galitos, alma mater deste colossal triunfo, e a todos quantos partilham do magnífico trabalho.
Da Caldeirada, fica-nos o perfume da ternura com que nela se canta as belezas da nossa ria, a graça das nossas mulheres, o bramido do nosso mar - esse colosso que tem sorrisos de criança e fúrias de gigante!
Ficar-nos-á a saudade acridoce desta noite triunfal e das outras que se lhe seguirão, marcando para sempre quanto pode a vontade indomável dum grupo de modestas raparigas, cheias de inteligência, mocidade e de luz ao lado dum punhado de rapazes activos e decididos, que metem ombros a uma empresa que para muitos teria sido impossível vencer!
A madrugada, em laivos macerados, inicia, à hora que terminamos, o embate dos seus tons claros e a alvorada radiosa aproxima-se vivificante, diluindo em beijos as sombras errantes da noite!
A luz forte e viva do sol virá dourar com os seus raios penetrantes o triunfo dos que trabalharam, acalentando o entusiasmo dos que, como nós, aplaudiram com fé, com entusiasmo e com justiça todos quantos colaboraram na realização da extraordinária obra.
A Caldeirada repete-se hoje e amanhã, achando-se já esgotada a venda dos bilhetes. E à cena, pela última vez, subirá, na próxima quinta-feira.”
7) in O Povo de Aveiro de 29 de Junho de 1924:
A CALDEIRADA
“É o título de uma revista de carácter local, que tem ido à cena no Teatro Aveirense, e a cuja representação assistimos no Domingo passado.
O autor da peça, querendo fugir a crítica viva ou acerada, produziu um trabalho monótono, sem a vivacidade indispensável a essas produções teatrais. Contudo, há na peça passagens interessantes, que a fazem ouvir com agrado.
Da mesma falta de vivacidade se ressente a música, sem notas características, que os garotos possam na rua, assobiar. Não sei se era Offenbach, se outro, quem dizia que se, os garotos, no dia seguinte ao da primeira representação, assobiassem trechos de música na rua, a peça ficaria consagrada. Não quer isto que a música da Caldeirada não seja bonita. É. Mas falta-lhe o tic popular.
Os coros estão muito bem ensaiados.
O desempenho, geralmente, é bom. Sobretudo o dos homens. As mulheres, mesmo falando, sendo, na sua quase totalidade, muito novas, tem uma voz de franganitas, que fere o tímpano, impressionando mal. A dicção também é má, em homens e mulheres, o que se poderia ter corrigido nos ensaios. Mas isso não admira. Nem os doutores sabem já falar e escrever em Portugal.
As meninas Rita da Costa, Conceição Picado, Maria Carvalho e Celeste Freitas merecem menção especial. A primeira pisa bem o palco. Tem linha. É bonita. Qualidades que a recomendam e tornam apreciável. A segunda vai bem no seu papel. A terceira mostra habilidade. A quarta tem uma voz harmoniosa, bem temperada, que lhe assegura um lugar distinto de cantora de opereta se quisesse seguir a vida de teatro. Atribuam-lhe um certo acanhamento. Dá-lhe encanto. Ela o perderia, com a pratica. A sua voz ganharia da mesma forma maior relevo, musicalmente educada, e com a simpatia que ressalta da sua pessoa, impondo-se ao espectador, tornar-se-ia, repetimos, na opereta, uma figura de primeira ordem. Deus a fade bem, porque vimos que os seus adoradores já são numerosos. E esse filtro que eles lhe oferecem em ramos de flores e olhares que comem é muito perigoso. Ponha-se em guarda, menina e esteja alerta.
Dos homens distinguem-se Manuel Graça, Manuel Moreira, Aurélio Costa, Jose de Pinho, José Parracho, Firmino Costa. Foi uma ideia infeliz por o sr Manuel Graça a falar brazileiro. Isso, ou se imita muito bem ou não tem graça nenhuma. Melhor faria falando português, mesmo porque há muitos brazileiros que falam português com extrema correcção. À parte isso, vai bem nesse papel e muito bem quando imita o Vinagreiro. Aí é que se revela um actor.
Muito bem o sr Firmino Costa imitando o Valentim, onde também se revela um actor.
Os senhores Manuel Graça, Aurélio Costa e Sebastião Amaral têm boa voz.
Com uma cuidada selecção, tirar-se-ia dali, em homens e mulheres, um grupo teatral, que, com bom ensino, se tornaria de primeira ordem.
8) in O Democrata de 12 de Julho de 1924:
A CALDEIRADA
Com o espectáculo em benefício de récitas dadas pelo Grupo Cénico do Club dos Galitos com a revista regional A Caldeirada. E quanto para nós for a causa de receios, de ansiosas interrogações, povoando-nos o espírito de dúvidas assustadoras, sacudindo-nos a alma em estremeções temerosas, corre já nas asas enganadoras do tempo, pertencendo ao passado e dando-nos a impressão dum lenço branco, muito alvo, que de longe nos diga adeus!
Todos aqueles sorrisos, iluminando lábios tentadores, abrindo-se como feiticeiros botões do êxito; todos aqueles olhos sonhadores, fitando-nos como estrelas prateadas e errantes na grandeza ínfinita do firmamento; toda aquela música suave e doce cantada por dezenas de gargantas, em gorgeios maviosos, à mistura com brados crueis do ensaiador ou pancadas metálicas, secas, sacudidas da batuta; tudo isso passou, tudo isso já lá vai, pertencendo agora à história!
E assim, da Caldeirada resta-nos uma consoladora revoada de saudades, de comoções, uma felicidade que se esvai, todo um poema de recordações, que, todavia, há-de viver na nossa alma, gasta embora e alquebrada, mas ainda aberta, contudo, a estas ilusões da vida!
***
Em todas as noites de espectáculo, o mesmo entusiasmo, o mesmo clamor de aplausos, chovendo flores no palco, como justo e merecido prémio às figuras de maior destaque da cena.
Chamadas especiais ao autor, ao ensaiador, ao maestro, erguidos no placo pelos braços vigorosos da rapaziada, dedicadíssimo elemento que tanto contribui para o magistral triunfo conseguido. Porque seria injustiça não deixar aqui consignada a dedicação inexcedível, a vontade decidida dos rapazes que em todo esse lapso de tempo gasto no apuramento da peça, nunca afrouxou em persistência, nunca diminuiu a sua vontade!
Cheios de fé, de inabalável decisão, acompanhados com igual ardor por parte das belas moças que tomaram voluntariamente o encargo de irem até ao fim – o triunfo era certo, como certo foi.
Entre o numeroso grupo há, sem dúvida, aptidões muito aproveitáveis, manifestamente artísticas e que concorreram como factores importantes para o êxito obtido.
Já aqui apontámos especialmente Paula Graça, Manuel Moreira, Aurélio Costa, Rita da Costa, Conceição Picado, Apresentação Lima, Adélia Pereira, Maria L. Carvalho e Celeste Freitas, esta exclusivamente, como valor, pois possui uma bela voz, harmoniosa e doce, de meio soprano.
Há, porém, quem, pelo seu trabalho nos pequenos papéis desempenhados, mereça devido registo. Neste caso estão Firmino Costa, José Parracho, José de Pinho, José Simão, que na revista tomaram parte brilhante e de relêvo. Firmino Costa, prodigioso em imitações, é digno de especial referência no seu trabalho – polícia de giro, João da bandeirinha e segundo amantetico de música, número que entre merecidíssimos aplausos foi sempre repetido duas e três vezes; José Parracho, extraordinário nos seus múltiplos papéis, nomeadamente no camponez e no aviário onde a sua verve mantém em prolongada hilariedade a platéia; José de Pinho, no reclamante, no aflito e muito especialmente no primeiro amantético, completando magnificamente este número de charge aos amantes das músicas; José Simão, no arrais, no rendeiro, no arauto, no Dr. Pangloss, muito correctamente, não se metendo em linha de conta todo o seu dedicado trabalho de coadjuvação dentro e fora dos bastidores, manifestado de tão variadas formas, sob todos os pontos, digno dos maiores aplausos.
José Simão é, incontestavelmente, um inteligente e dedicado elemento para o grupo.
Pela derradeira vez ecoam, pois, no nosso magnífico teatro, perdendo-se no cruzamento do cenário e pela vastidão da sala, os acordes, os sólos e os córos da magnífica revista, da qual brotará, por certo, trabalho de maior folego, onde possam brilhar mais intensamente os belos elementos que a tentativa agora finda pôde, tão brilhantemente, reunir. São esses os nossos votos. E oxalá, portanto, brevemente possamos registar novas noites de triunfo, iguais, pelo menos, àquelas que terminaram agora, como uma feliciadde que se apaga, todo um poema de encanto que abriu para as ilusões da vida, alcançando, enfim o seu apogeu de ventura.
***
Por último e a propósito: atribuímos aqui um dia a qualidade de empresário de A caldeirada ao nosso amigo Pompeu Alvarenga, quando o que lhe deviamos ter chamado era director do Grupo Cénico, sendo como tal que na noite do espectáculo em benefício da Misericórdia lhe foi oferecida a palma pela comissão das festas e que ele, por um requinte de gentileza, colocou nas mãos de Rita da Costa (Aveiro) afim de a entregar no Club dos Galitos onde ficará ao lado de outras recordações.
9) in O de Aveiro de 12 de Fevereiro de 1928:
Viseu-Aveiro
“O nosso talentoso, velho e prezadíssimo amigo, Dr. José Júlio César, de Viseu, dá-nos hoje a honra de colaborar neste periódico com o excelente artigo que se vai seguir, e que será lido com muito agrado nos dois distritos de Aveiro e Viseu.
Aveiro-Viseu, cujos interesses, desde tempos imemoriais, andam mais ou menos ligados, conhecem-se mal e não têm procurado unir os seus esforços no sentido de mutuamente contribuirem para o seu progresso e engrandecimento, como para o de toida a Beira litoral e grande parte da Beira serrana. As excursões feitas nos últimos tempos, de Aveiro a Viseu, e vice versa, bem como a realização do 3º Congresso Beirão em Aveiro, que deve fazer-se no próximo verão, e que por minha vontade, como podem afirmá-lo entre outros, os queridos amigos Drs. Alberto Souto e Lourenço Peixinho, já se teria levado a efeito há dois anos, devem dar o melhor resultado.
O Grupo Tricanas e Galitos, que gentilmente aqui veio dar agora duas récitas, no Teatro Avenida, com A caldeirada e Cavalaria Rusticana, deixou a melhor das impressões.
Muito difícil seria arranjar em qualquer outra cidade do país um grupo de amadores capaz de pôr em cena, com tanto brilho, mimo e correcção, dois espectáculos assim.
A música da Caldeirada, da autoria do Sr. Dr. Vasco Rocha, batuta firme, que conhece as grandes dificuldades musicais, tem muita originalidade e regionalismo. É bastante superior à da maior parte das revistas levadas em Lisboa e Porto, que na maioria é copiada. Celeste Freitas e Sebastião Amaral, mais parecem dois artistas consagrados, que simples amadores.
Apresentação Lima, Conceição Picado e Manuel Paula Graça, são elementos de valor, com vozes agradáveis e afinadas.
Os coros admiravelmente ensaiados e afinadíssimos.
Podem apresentar-se em qualquer parte, com a certeza de deixarem boa impressão. Como porém, não há boa sem senão, devo dizer que a primeira parte do 3º acto da Caldeirada é monótona e prejudica muito o conjunto da peça. Uma ligeira e apropriada ligação do 2º ao 3º acto, com o côro das Serranas, que é adorável, e com a apoteóse final, que é de bom efeito, fará com que a peça melhor muito.
Que me perdoe o sr. Luis Couceiro bue lhe diga o que sinto, que é afinal o sentir geral.
O onze dos Galitos é de valor. Foi pouco feliz nos dois desafios com o Académico e Lusitano, de Viseu, mas mostrou que os seus componentes são correctos e leais, e que está em condições de jogar, sem desdouro, em qualquer parte.
A impressão aqui deixada foi excelente.
E eu estimei-o deveras, por todos os motivos, e até porque, sendo natural daquele lado da serra do Caramulo voltada para a Beira-Mar, tenho pela nossa linda Veneza e pelos seus habitantes, a mais funda simpatia.
E agora que a vinda de tão simpáticos emissários, despertou nos viseenses no geral um pouco sérios, tão viva e grata impressão, vamos a cuidar dos interesses materiais comuns. (…) Viseu, 8-2-928
José Julio Cesar.
10) in O Ilhavense de 12 de Julho de 1925:
11) in O de Aveiro 19 de Fevereiro de 1928:
A Caldeirada
“Escreve-nos o sr. Luís Couceiro da Costa, autor da revista A Caldeirada:
Sob a epígrafe “Viseu-Aveiro”, correspondência inserta em seu conceituadíssimo jornal de 12 de Fevereiro do corrente e firmada pelo Exmo Sr. José Júlio César com referências à récita dos Galitos levada a efeito na capital beirã, destaca-se o período seguinte:
“Podem apresentar-se em qualquer parte com a certeza de deixarem boa impressão.
Como, porém, não há boa sem senão, devo dizer que a primeira parte do 3º acto da Caldeirada é monótona e prejudica muito o conjunto da peça. Que me perdoe o Sr. Luis Couceiro o que sinto que é afinal o sentir geral”.
Não tenho a honra de conhecer o distinto cronista e, por isso mesmo, mais me apraz comprimentá-lo na justíssima apreciação do que transcrevo, afirmando que muito antes do sentir de sua excelência e sentir geral, como bem diz, o sentiu o próprio autor da revista flagrantemente surpreendido com os imprevistos de momento a que teve de sujeitar-se aquela monotonia.
E assim, sacundindo a água do capote na frase trivialíssima dos que se sentem atingidos por responsabilidades que não têm, direi que semelhante impressão sugerida no culto espírito dos observadores, se deveu única e exclusivamente ao corte de episódios que, intercalando a cena da referida primeira parte, dividiam o diálogo, justificavam a acção e davam vulto e movimento com a indispensável ligação à sequência do acto.
E, sem mais comentários, seja-me lícito ao menos frisar que neste exemplo se reveja quem não atendeu às previsões da crítica que tão antecipadamente defini e acentuei neste mesmo ponto.”
12) in O Democrata de 5 de Junho de 1937:
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