Conclusão e pistas de trabalho

Como pudemos verificar, se o Teatro Aveirense se manteve activo, ao longo de mais de um século, isso deveu-se a um punhado de homens e mulheres amantes das artes dramáticas. Contra tudo e, muitas vezes, contra todos, conseguiram fazer com que a “arte de Talma” se sustentasse e não definhasse na sua cidade. Quer fizessem parte da Direcção, quer de grupos de curiosos, o dinamismo era sempre o mesmo: trazer espectáculo e alegria à população aveirense uma vez que, de outra forma, a oportunidade de se distraírem era mínima. 125 anos volvidos após a inauguração do Teatro Aveirense, é ainda possível encontrar em Aveiro quem se recorde dos serões proporcionados pelo Cénico dos Galitos, ou pela Companhia Rafael de Oliveira, provavelmente as duas agremiações que granjearam o maior número de admiradores e de espectáculos bem sucedidos. 
Graças à actividade itinerante destas companhias é que os públicos das províncias tomavam contacto com o que de melhor ou pior se fazia na capital. Se assim não fosse, as vilas e cidades periféricas ficariam sempre limitadas aos espectáculos das companhias amadoras, ainda que, como procurei mostrar, nem sempre se queixassem de tal facto. Esta presença do teatro, numa cidade como Aveiro, e o extraordinário envolvimento da sua população na realização e fruição de espectáculos teatrais fazem parte da actividade que ao longo de séculos existiu em Portugal. Foi esta faceta original – a criação e desenvolvimento de vários grupos de amadores – que fez com que o Aveirense fosse sempre um espaço muito acarinhado pelos cidadãos. A diversidade das práticas que entusiasmaram os aveirenses exigem que se faça também com elas a História do Teatro em Portugal. 
No que diz respeito à História do Teatro Aveirense, muito trabalho ainda está por inventariar e organizar. Há dados que correm o risco de se perderem para sempre, uma vez que, nem toda a gente está sensibilizada para a documentação e, durante anos, esses registos estiveram amontoados na cave do Governo Civil de Aveiro. Não é de admirar o seu estado de degradação. Além disso, o que, neste momento, está em arquivo carece de correcção. Há programas com datas escritas a lápis, outros rasurados e outros guardados fora do seu ano. Como exemplo, destaco um programa com Beatriz Costa, que consta junto de material do fim do século XIX; ou um outro no qual alguém escreveu a data a lápis, sem reparar que já lá havia um ano, mas diferente desse; também se vêem arquivados, antes da Implantação da República, programas com os preços em escudos. Para lá destes erros grosseiros, por vezes, não há certezas de que o espectáculo se realizou. É preciso comparar apontamentos e comprovar a veracidade dos mesmos, tendo em conta algumas condicionantes:

Se amanhã alguém quiser fazer um estudo acerca do teatro português, há-de ver-se completamente embaraçado porque não tem os elementos necessários para o fazer [...]. E tudo isto porque em Portugal, [onde] o desleixo e o desprezo andam de mãos dadas. [O Teatro, nº2, pág.1] 

Em termos de trabalho futuro, seria bastante pertinente a criação de uma Base de Dados local, à semelhança da existente no Centro de Estudos de Teatro – CETbase – para que os programas e cartazes, ficassem compilados e, de uma forma simples, todos os interessados a ela acedessem de uma forma clara, compreensível e atractiva. 


Comentários

Mensagens populares